Profa. Dra. Ester Silveira Ramos - Henraq
Profa. Dra. Ester Silveira Ramos
- Entrevistas
- 26/08/05
A Dra. Ester Silveira Ramos é médica formada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, com residência em Genética Clínica e Mestrado e Doutorado em Genética pela USP. É professora da graduação e pós-graduação da mesma faculdade e atua tanto na área de pesquisa quanto na área de assistência do Hospital das Clínicas da FMRP-USP. Recentemente esteve em destaque na mídia pelo seu trabalho na área de extensão universitária com grupos de terceira idade.
Profa. Dra. Ester Silveira Ramos
1. A Genética é uma área da Medicina que tem sido muito comentada ultimamente, principalmente devido às células-tronco. Como está, a seu ver, o avanço dessas pesquisas no Brasil?
Existem vários grupos pesquisando as células-tronco no Brasil, com resultados animadores. Os pacientes portadores de várias doenças para as quais até agora os tratamentos eram pouco ou não efetivos, poderão futuramente ser beneficiados por esses estudos. No entanto, precisamos lembrar que, na maioria dos casos, os resultados são ainda preliminares e muita pesquisa ainda deve ser necessária para que a utilização das células-tronco sejam consideradas seguras e utilizadas como uma rotina.
2. A preocupação hoje de muitos casais tem sido em relação à fertilização in vitro (FIV). Já é possível dizer que é uma técnica que poderá futuramente ser realizada em grande escala?
Em alguns países, as técnicas de reprodução assistida, como a FIV, já são utilizadas para a concepção de um grande número de crianças. Isso se deve, principalmente, às mulheres que optam por ter seus filhos cada vez mais tarde, para poderem primeiro se estabelecer no mercado de trabalho. Em nosso hospital (Hospital das Clínicas da FMRP-USP), o tratamento dos casais é realizado gratuitamente há alguns anos. No entanto, as indicações médicas para a reprodução assistida devem ser sempre seguidas. Para isso existe toda uma regulamentação do Conselho Federal de Medicina, orientando os médicos e as clínicas de reprodução para que os procedimentos sejam sempre regidos pela ética.
3. A genética é uma palavra que atualmente é empregada em inúmeros seguimentos. Na área de cosmetologia, inclusive. Qual poderia ser a contribuição de pesquisas genéticas nessa área?
Tem se falado de produtos já disponíveis no mercado que levariam em conta o perfil genético do cliente. A formulação estaria de acordo com marcadores genéticos detectados através da análise do DNA da pessoa. Isso é ainda muito controverso. No entanto, a idéia de se levar em conta as características individuais poderia, no futuro, conduzir, por exemplo, à criação de produtos mais adequados aos tipos diferentes de pele e diminuição das alergias.
4. O biólogo americano James Watson está lançando este mês o livro DNA, onde ele revisa o avanço da ciência e conclui que o DNA encerra o segredo da vida e também de como melhorá-la. Quais os riscos e vantagens com o aprimoramento genético?
Quando falamos em animais e plantas, existe a procura de melhoramento genético como uma forma, por exemplo, de aumento de produção de alimentos. A própria natureza faz suas experiências em termos genéticos para fazer com que as espécies possam se diferenciar e sobreviver. Em termos de seres humanos, é até anti-ético se referir a aprimoramento ou melhoramento, pois isso implicaria em eugenia. Portanto, na verdade o que as pesquisas procuram é melhorar as condições de vida, principalmente procurando a cura de doenças que afetam os seres humanos.
5. O seu trabalho com a terceira idade foi considerado um sucesso e ainda foi uma diversificação na sua faixa etária letiva de atuação. O que achou dessa experiência?
A Universidade de São Paulo tem se preocupado em realizar cursos de extensão para a comunidade, sendo uma das prioridades os grupos de terceira idade. Em 2004 nós oferecemos um Curso de Genética para a Terceira Idade no qual foram discutidos vários dos avanços da Genética. Foram realizadas aulas práticas, como a extração de DNA e observação de cromossomos no microscópio. Participaram pessoas das mais diferentes origens, escolaridade e classes sociais. No entanto, foi muito interessante notar o interesse e entusiasmo das pessoas dessa faixa etária, todas participando de forma muito ativa e formulando muitas perguntas. Isso mostra que nossa população gosta de se informar e discutir, de maneira crítica, os avanços da Ciência. Para este ano (2005) já estamos preparando um novo curso para esse segmento da população.