Dra. Fernanda Oliveira Camargo Herreros - Henraq
Dra. Fernanda Oliveira Camargo Herreros
- Entrevistas
- 12/05/10
Graduada em Medicina pela UNICAMP. Residência em Clínica Médica pela UNICAMP. Residência em Dermatologia pela UNICAMP. Estágio na Universitá degli Stdi di Verona – Itália. Título de especialista em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Doutorado em Dermatologia pela UNICAMP.
Dra. Fernanda Oliveira Camargo Herreros
1. Quais suas recomendações sobre os cuidados com a pele de uma forma geral?
Apesar de tradicionalmente recomendar-se limpeza, hidratação e tonificação, esta não é uma rotina adequada para todos os tipos de pele.
A pele do rosto deve ser lavada com sabonetes específicos para cada tipo de pele (mais adstringente para uma pele oleosa e mais umectante para uma pele seca) cedo e ao fim da tarde ou noite. O uso do tônico pode ser confortável para a pele bem oleosa, mas peles secas e sensíveis devem evitá-lo ou usar sob prescrição médica. Se não houver fácil acesso ao dermatologista, no geral a pele da face adapta-se bem a sabonetes neutros ou de glicerina líquidos.
Após a limpeza o melhor cuidado é aplicar um protetor solar adequado ao tipo de pele. O veículo em gel atende as peles muito oleosas, os de toque seco ou loções sem óleo são adequados para peles moderadamente oleosas ou mistas, e os cremes são bons para peles secas. É importante que o protetor solar, para o dia-a-dia tenha FPS de no mínimo 15 (proteção contra queimadura, filtra os raios UVB, que incidem mais das 10 às 16 horas) e apresente no rótulo a existência de proteção UVA (raios que causam envelhecimento). Com proteção UVB e UVA asseguramos proteção contra manchas, queimaduras, retardamos o envelhecimento cutâneo e, mais importante, prevenimos o câncer da pele.
O filtro solar deve ser aplicado diariamente nas áreas expostas, mesmo em dias nublados, porque os raios UVA incidem o dia todo e atravessam as nuvens. Deve-se aplicar uma quantidade suficiente para que se sinta a pele hidratada, meia hora antes da exposição e reaplica-se quando houver muita sudorese, imersão em piscina e a cada duas horas de exposição recreacional. No dia-a-dia, se o indivíduo trabalha em local fechado, pode-se reaplicar na hora do almoço, mas isso varia de protetor a protetor (capacidade de duração do produto).
Para o corpo o ideal é um banho diário com sabonete neutro ou de glicerina (pode ser em barra neste caso), ou recomendado por médico. O banho deve ser rápido, morno, sem bucha e seguido de secagem gentil do corpo com toalha e aplicação de hidratante neutro. Se desejar mais de um banho ao dia, deve-se usar sabonetes somente nas áreas axilares, genitais, face, pescoço e pés. Estes cuidados são importantes para evitar o ressecamento excessivo da pele com remoção do manto hidrolipidico próprio da cútis, que tem função de barreira, de umectação e de proteção contra infecções fungicas e bacterianas.
2. Quais as diferenças de pele com relação à idade? Quais as principais classificações para diferentes tipos de pele adotadas atualmente?
A pele da criança tem a mesma estrutura do adulto, mas ainda não funciona completamente. Ela é no geral mais seca, mais fina, mais sensível e mais delicada. Ainda não regula completamente a temperatura corpórea e não tem todo sistema imune cutâneo desenvolvido.
A pele senil também é no geral menos elástica, menos firme e mais seca, por alteração da composição do manto hidrolipídico (influenciado por hormônios). Ela tem aspecto diferente em áreas expostas ou não expostas ao sol. Em áreas expostas mostra-se mais enrugada, mais frágil, com hematomas por qualquer batidinha, com manchas escuras e lesões salientes, alterna áreas mais espessas e mais finas – é o foto-envelhecimento. O foto-envelhecimento soma lesões do envelhecimento natural ou intrínseco com o envelhecimento provocado pelo sol (à degradação natural do colágeno soma-se a degradação provocada pelo sol).
Áreas não expostas no geral têm poucas rugas ou nenhuma (como a pele do abdômen), a pele é lisa e mais fina, menos elástica e menos firme que no adulto jovem e não apresenta manchas, apenas pintas. Este é o envelhecimento intrínseco, gerado pela diminuição e alteração de colágeno, elastina e de todas as camadas da pele.
A classificação mais aceita é a de Fitzpatrick que define 6 tipos de pele, segundo sua cor e capacidade de reagir ao sol. O fototipo 1 corresponde a uma pele muito clara e sensível, que sempre se queima e nunca se bronzeia ao sol. O fototipo 2 é de uma pele branca, sensível, que sempre queima e bronzeia pouco. O fototipo 3 é de pele morena clara que queima e bronzeia moderadamente. O fototipo 4 é morena escura, queima pouco e sempre se bronzeia. O fototipo 5 é pardo, nunca queima e sempre pigmenta. O fototipo 6 define uma pele negra, pouco sensível ao sol, que nunca se queima e sempre se bronzeia.
Uma classificação nova e promissora é a da Dra Baumann, que usa 4 critérios para definição: Hidratação da pele (oleosa ou seca), resistência a produtos cosméticos e de uso geral (sensível ou resistente), firmeza (firme ou enrugada) e presença de manchas (pigmentada ou não pigmentada). Assim, o indivíduo é classificado de acordo com cada um destes critérios, o que gera um número maior de tipos de pele (16). Por exemplo, uma pele oleosa pode ser: oleosa, sensível, pigmentada e firme ou oleosa, resistente, não pigmentada, enrugada e assim por diante.
3. Quais os produtos disponíveis e eficientes nos mercados brasileiro e externo específicos para os cuidados com a pele ? Em sua opinião, como será o futuro desse setor?
Pelo Conselho de Medicina, CRM, o médico não pode dizer em entrevista qual produto é eficiente, somente em consulta individual. Há varias marcas nacionais e estrangeiras sérias.
A tendência é de fazer produtos eficazes para o tratamento, mas mais aceitáveis cosmeticamente, ou seja, mais agradáveis ao olfato, ao toque. Outra tendência é juntar varias funções num mesmo produto: protetores solares com tom de base, ou filtros solares com hidratante e substâncias anti-envelhecimento.
Ainda falando de cosmético e maquiagem, uma boa dica é a maquiagem mineral, que é mais tolerável para peles sensíveis e não provoca cravos, o que é ótimo para a brasileira que no geral tem pele mais oleosa ou mista.
Quanto à incorporação de ativos interessantes para cuidados da pele, existe um leque enorme de opções que tem se mostrado interessantes. Como calmante, anti-inflamatórios temos a licochalcona, o alcaçuz, a camomila. Como anti-oxidantes: as tradicionais vitaminas A, C, E, os peptídeos, os açúcares, o DMAE, Coenzima Q10, ácido ferúlico… E como reestruturante dérmico o silício orgânico. Mas são muitos ativos disponíveis, é indispensável que para o uso de qualquer produto seja consultado um médico.
4. Como a senhora vê os avanços tecnológicos de produtos industrializados e manipulados frente à cirurgia plástica?
Os cosméticos e principalmente os pequenos procedimentos em Dermatologia (como preenchimentos, toxina botulínica, laser, peeling) têm avançado muito porque há muita pesquisa neste setor. Além destes procedimentos, em alguns casos, adiarem uma cirurgia plástica; eles também colaboram num melhor resultado da cirurgia, já que não adianta operar e depois não cuidar da pele, mantendo hábitos nocivos como fumo e exposição solar. São procedimentos que podem caminhar juntos, cada um dentro de suas possibilidades, para um resultado mais harmônico para o paciente.
Assim, por exemplo, o cirurgião pode fazer um lifting para redefinir os contornos do rosto, mas pode-se usar cosméticos para tratar eventuais manchas da pele e para estimular a firmeza da mesma, para que haja resultados mais duradouros.
5. Com relação a alergias da pele, como devem ser os cuidados principalmente em relação aos bebês e crianças?
Devemos sempre ter cuidado com a aplicação de produtos porque eles podem desencadear desde uma irritação local até um quadro alérgico. É fundamental lembrar que as substâncias aplicadas na pele podem penetrar e chegar aos mais diversos órgãos do organismo, pela circulação. Logo na parte mais alta da derme (segunda camada da pele) há uma rede de vasos que se comunica com a circulação do corpo e pode levar os produtos que penetraram no tegumento. Assim, produtos aplicados em uma região podem desencadear alergias e urticária em locais distantes e por todo o corpo.
Isso é mais sério na criança, porque pela sua área corporal, tudo que é aplicado é mais absorvido que no adulto. A pele é mais sensível e ainda não teve contato com um número tão grande de substancias. Quando as crianças são expostas cedo a vários produtos há uma chance maior de elas se sensibilizarem, pois seu sistema imune cutâneo ainda não funciona integralmente e elas podem se tornar alérgicas a produtos que na vida adulta tolerariam usar.
Com bebê e criança, quanto mais simples e natural, melhor. Devemos optar por cosméticos indicados por médicos ou marcas confiáveis e específicas para o público infantil. Também é útil procurar no rótulo se o produto foi testado dermatologicamente. Cosméticos infantis geralmente têm menos corante, menos perfume e menos conservantes, justamente para diminuir o número de substâncias a que as crianças são expostas.
O velho sabonete de glicerina ainda é uma boa indicação.
6. Produtos cosméticos podem ser utilizados nesse segmento mais jovem? Quais os tipos e a partir de que idade podem iniciar seu uso? Qual seria a tendência de produtos para esse segmento?
Podemos utilizar cosméticos mas com parcimônia. Na criança, pelo já explicado, deve-se optar pelo básico, essencial. Nunca se deve aplicar nenhum produto não indicado por médico (além do sabonete) em crianças menores de 6 meses de idade (mesmo protetor solar é contra-indicado), porque a pele da criança ainda não tem controle pleno da temperatura corpórea.
Produtos muito cremosos e oleosos podem desencadear acne infantil ou brotoeja.
Quanto menor a criança, maior deve ser o cuidado.
Cosméticos para higiene como xampus infantis podem ser iniciados conforme o cabelinho vá crescendo, o condicionador só quando já houver comprimento de cabelo, não se deve aplicar no couro cabeludo. Hidratantes neutros infantis podem ser utilizados após os 6 meses de idade, mas seu uso é indicado só pelo pediatra em casos de pele mais seca.
Já adolescentes e pré-adolescentes podem e devem usar hidratantes neutros após o banho para hidratar a pele e evitar estrias de crescimento e podem usar desodorante assim que notarem aparecimento de odor ou sudorese axilar.
O protetor solar deve ser usado após os 6 meses quando houver exposição ao sol, o ideal é procurar pelos infantis. Já na a adolescência, a pele fica mais oleosa e é necessário trocar o protetor infantil por uma de toque mais seco.
Mais do que tendência, o ideal para um cosmético deste seguimento é ser testado dermatologicamente, ter pouco álcool, pouco perfume, pouco corante e basear-se em matérias primas naturais.
7. Qual a sua opinião sobre as crianças, principalmente as meninas, usarem produtos de beleza? O que acha de salões de beleza voltados para esse segmento?
É preciso pensar não só como médica mas como mãe. Como médica acredito que criança deve usar somente produtos e cosméticos necessários, pela chance aumentada de complicação e de alergias. Como mãe, penso que já há na sociedade um estímulo excessivo à vaidade, ao exterior; eu não encorajaria minha filha ao uso. Criança, na minha opinião, deve ser criança, há muito tempo depois para maquiagem e produtos.
Agora, se a criança gosta e a mãe concorda com isso, então é melhor que se busque profissionais especializados no trato deste público e que acima de tudo se use produtos de boa qualidade, boa procedência e específicos para criança (maquiagem com corantes naturais, fácil remoção, não comedogênica).
8. Por último, o que teremos de novidades na área de avaliações dermatológicas de produtos cosméticos?
A tendência atual para avaliação de textura e vermelhidão da pele para testes cosméticos é o uso de Ultrassom e Ultrassom com doppler. Apesar da biópsia e anatomopatológico continuarem a ser padrão ouro para estudo, a vantagem do exame de imagem é poder fornecer dados quantitativos para análise sem ser invasivo. É tecnologia ainda bastante nova disponível só em centros universitários.
O que já não é novidade e me parece o correto é a proibição de testes de cosméticos em animais. Já possuímos tecnologia e experiência para testar estes produtos em outros modelos.