Prof. Dr. Edison Bittencourt - Henraq

Prof. Dr. Edison Bittencourt

Prof. Dr. Edison Bittencourt, Prof. Titular do DTP, com comprovados conhecimentos na área, habilitado pela North Carolina State University (B. S. Textile Chemistry em 1971 e, Ph. D. Chemical Enginerering em 1975). Professor Titular do Departamento de Tecnologia de Polímeros - Faculdade de Engenharia Química, Unicamp.

Prof. Dr. Edison Bittencourt

Mercado Têxtil no Brasil: oportunidades profissionais, ecologia e tendências

1. Como é o mercado têxtil no Brasil? Quais são as oportunidades de carreira nesse mercado?

A cadeia produtiva têxtil do Brasil, hoje é formada por 30.000 empresas entre fiações , tecelagens , malharias, estamparias, tinturarias e confecções, que geram 1,6 milhão de empregos formais e informais e que apresentou no ano de 2006 um faturamento de US$ 33 bilhões.
O Brasil é o sexto maior produtor têxtil do planeta, ocupando o segundo lugar na produção de denim. O setor têxtil de confecções é um dos que mais emprega no País, sendo o segundo maior empregador da indústria de transformação da qual representa 18,6 % do produto interno bruto.
Há demanda por técnicos têxteis, que representam a maior fatia em termos de atividades de supervisão; e também para engenheiros têxteis, mecânicos, e químicos. O setor de moda e confecção também cresceu bastante na última década, demandando especialistas nestas áreas, formados em cursos de moda.

2. Quais são os profissionais mais solicitados? Quais são as áreas tecnológicas mais desafiadoras para o profissional da área têxtil?

São profissionais de nível médio: técnicos têxteis. Os desafios da indústria têxtil são ser competitiva em commodities e ao mesmo tempo viabilizar a produção de produtos e de maior valor agregado – specialties – que significam incorporação de tecnologias emergentes, como novas fibras; nanotecnologia; biotecnologia. Outrossim há necessidade de mão de obra de alta qualificação, com formação no nível de pós graduação. Na Engenharia Química da Unicamp introduzimos cursos de extensão, bem como iniciamos a orientação de teses de mestrado e doutorado em temas de interesse para o setor.
Recentemente criamos a Especialização Têxtil da Unicamp, a Ciência Tecnologia e Gestão na Industria Têxtil, em que o objetivo é proporcionar uma visão integrada do processo empresarial têxtil e formação ampla e profunda nos aspectos técnicos da área. Pretende-se que o aluno adquira conhecimentos dos tipos de materiais empregados nos processos têxteis, estruturas moleculares e correlação com propriedades físico-químicas, bem como dos processos de produção, otimização e gerenciamento na indústria têxtil.

3. Como esse mercado se enquadra no contexto ecológico atual? Quais são os impactos ecológicos da produção têxtil no Brasil? E no resto do mundo?

Como todo setor de produção, a preocupação com a sustentabilidade está presente em todos os sub-setores da indústria, fiação, tecelagem, tingimento e acabamento. Há preocupação em estudar o ciclo de vida dos produtos; desenvolver processos de reciclagem – exemplo fabricação de filamentos e tecidos a partir de PET reciclado; economia de água e energia, onde há grande potencial.
Creio que a União Européia, capitaneada pela Alemanha, é a região mais exigente quanto à questão da ecologia. Nesta questão, destacam-se também os Estados Unidos. Existem “selos verdes“ que atestam a conformidade dos produtos têxteis a normas de processos e insumos “verdes”. Esta conformidade tem importante papel no mercado.

4. Quais são as últimas tendências em tecidos ecológicos?

Bem, existem novas fibras surgindo, que são inteiramente produzidas de insumos obtidos a partir da natureza; há possibilidades de reciclagem tanto de fibras químicas quanto naturais; no caso do Tencel, usa-se um processo de solubilização da celulose para produzir a fibra, sendo que este solvente é reciclável. Há também a questão da incorporação de corantes naturais, amaciantes e outros insumos obtidos da biomassa da natureza.

5. Qual a relevância de corantes e fibras naturais, na perspectiva da indústria e do consumidor?

Existe um nicho para produtos que sejam tingidos com corantes naturais, cujo maior problema é a resistência relativamente baixa à luz solar. A resistência à lavagem, por outro lado, apresenta valores aceitáveis. Nós estamos trabalhando nesta área. Quanto às fibras naturais, há um bom potencial para desenvolver as propriedades das fibras duras (rami, juta, cânhamo, malva, entre outras). O algodão, com a tecnologia predominante hoje, causa grande dano à ecologia, pois utiliza 25% dos agrotóxicos produzidos no mundo, e faz uso intenso de fertilizantes. Na quase totalidade do algodão produzido no Brasil, na verdade não é tão “natural“ assim.

6. Poderia explicar o conceito de produto têxtil orgânico?

Talvez o exemplo mais significativo, em relação ao termo Orgânico, seria o algodão cultivado de forma orgânica, sem uso de defensivos ou fertilizante químico, e com controle biológico de pragas. Esta produção vem crescendo, segundo a fonte .

7. Quais serão as novidades na área têxtil para os próximos tempos?

Um amplo conjunto de propriedades funcionais dos têxteis técnicos pode ser utilizado nos têxteis convencionais de modo a agregar valor a esses produtos. Basicamente a ação consiste em viabilizar a produção de specialties como alternativa à produção de commodities, aumentando o valor agregado dos produtos. Por exemplo: fios e fibras inteligentes notabilizam-se por agregarem funcionalidades às peças de vestuário e acessórios obtidos a partir deles, aumentando sua utilidade e comodidade, sejam estes relativos a aspectos físicos ou fisiológicos. Propriedades comumente buscadas nos fios e fibras relacionam-se à flexibilidade e maciez, resistência a ataques químicos e à temperatura, atividade antimicrobiana, anti-ácaro e fungicida, condutividade térmica ou elétrica, piezoeletricidade, propriedade anti-estática, resistência à radiação UV, barreira à radiação UV e infravermelho, retardante de chamas, repelência a insetos, efeitos anti-mancha e anti-aderência, boa absorção e transporte de umidade, absorção de odores, luminescência e fosforescência, bioestimulação, termorregulação corporal, tratamentos medicinais preventivos e pós-cirúrgicos e tratamentos na área da estética.

Também há crescente interesse quanto à sustentabilidade, ao ciclo de vida dos produtos, reciclagem, bem como utilização de insumos e produtos vindos da própria natureza.